“Uma organização é o produto da combinação de esforços individuais,
visando à realização de propósitos coletivos. Por meio de uma organização, é
possível perseguir ou alcançar objetivos que seriam inatingíveis para uma
pessoa.”
Descendo novamente pelas ruas do bairro com seu possante vermelho
cumprimentando praticamente todos que passavam ao seu lado, nos passeios pouco
movimentados do lugar em que nasceu.
Faltava apenas uma esquina para chegar a sua casa, quando a carroceria
do carro vibrou com um choque lateral, nada se via. Parou, encontrou um sujeito
estendido no asfalto, olhava com ódio para o motorista, mas não disse nada.
Levantou-se, uma enorme mancha escura formou-se no boné esverdeado. O homem
pediu desculpas ao sujeito e ainda perguntou se queria alguma assistência,
poderia levá-lo ao Pronto-Socorro. O skatista não era dali, apenas pediu uma
carona, morava em outro lugar, desconhecido até então. Conforme ia guiando além
de pedir instruções sobre o caminho perguntara maiores detalhes do acontecido,
até tentando lhe tirar a culpa. Pois ele nada vira. O rapaz jovem, porém com um
bigode imponente que dava voltas na ponta, não era de muitos detalhes resumia a
conversa entre esquerdas e direitas muitas vezes dizia apenas siga o fluxo.
Deveria ter chegado ali de outra forma, pois havia muitas descidas e
subidas, além de um percurso longo para se fazer em cima de um shape.
A vítima pediu que encostasse próximo a um beco, pois ali carro não
passava. Agradeceu a carona colocou a
mão na cabeça pressionando o boné adentrando na passagem. Sumiu dentro de
instantes. Lá estava, sozinho de novo dentro de seu carro, vermelho em um dia
um pouco cinza na cidade. Toda aquela adrenalina não permitiu uma maior atenção
no caminho, estava bem perdido, não vendo ninguém por perto para perguntar. Sempre
morou no mesmo lugar, trabalho próximo, não tinha muita idéia de onde estava
por ser final de expediente apesar de horário de verão, daqui a pouco iria
anoitecer.
Contornou na rua da frente e
começou a fazer a volta. Acostumado a não rodar muito nunca enchia o tanque, as
mãos começaram a suar, na terceira travessa a direita encontrou pessoas que não
conheciam sua rua. Ficou irritado com pessoas que não conheciam outros lugares,
apenas esqueceu-se de si. Continuou andando de segunda marcha, buscando alguém
ou algum posto onde pudesse abastecer e também se informar. Os outros motoristas não paravam se quer nos faróis
vermelhos, no entanto as calçadas agora com mais pedestres não mostravam
segurança. Parece que com a chegada da lua todos se transformaram. Cada ser
preocupado com a própria sobrevivência.
A gasolina acabou, o carro parou, o desesperou seguiu. Ligou para o
seguro pediu um guincho, demorou meia hora para falar com a atendente. Contudo
não sabia o nome da rua, pediu para esperar, a moça deixou no mudo, desceu do automóvel
ligou o pisca - alerta, começou a caminhar, a primeira placa não era da rua,
uma propaganda de sofá não havia muita iluminação pública no local, a claridade
vinha das casas. Continuou subindo a rua, achou a esquina não encontrou nada, a
ligação caiu. Não tinha mais sinal, desceu para encontrar novamente sinal,
sacou o paletó, suava por todos os lados, tinha sede e fome. O carro não estava
lá. Quem se preocuparia em trancar um carro sem gasolina. Mais ou menos isso
queria dizer com o palavrão que soltou.
Encontrou uma senhora sentada em frente a uma casa branca, as duas
estavam bem descascadas de frente para ele. Conversou com ela como se fosse o
oráculo e ficou sabendo a rua em que estava então ligou novamente para o
seguro, a velha entrou com a chegada de uma criança e uma mulher mais jovem.
Começou a andar de um lado para outro, outra ligação tocava de 2º plano, era
sua esposa, atendeu, no entanto ela não parava de falar, dizia alguma coisa
sobre bolsas, ele iria explicar tudo quando ela diz que vai chegar tarde,
precisando desligar de imediato o telefone, voltou pra primeira ligação alguém
tinha atendido, escutou o primeiro alou, depois ocupado.
Não sabia quem avisar do roubo a polícia ou seguro, nem onde estava. Já
imaginava morando ali, como sem caminho de volta. Poderia arranjar um emprego
então comprar um carro e quem sabe atropela-se alguém de outro lugar, um
ex-amigo de bairro. Assim poderia voltar para casa.